segunda-feira, 24 de março de 2014

ALICE


Alice, o que escrevo é para você!
Loucura, sonho, perdição ou desatino,
Isto já não importa mais, nem menos.
Coelhos brancos não falam todos os dias
E a nossa história não é um filme. Mas se for...

Não quero acordar para vida,
O que vivemos me parece realidade.

Preste atenção nas fores, elas não mentem!
Alice, quando olho para outros horizontes,
Íntimo, sinto como se estivesse te traindo.
Só o amor faz isso com a gente!

Disseram-me que é loucura, que é inalcançável.
Ainda assim, isto não significa impossível.
Somente corações puros podem entender,

Mas temos que acreditar, mesmo em sonho!
Acredite! Podemos criar nossa realidade,
Reinventar possibilidades, até encontrarmos.
Aonde for... A felicidade estará em nós,
Viveremos uma fantasia ousada, sem os pés do chão,
Imaginar como será e fugir do “como é”.
Ler uma história de amor a cada dia,
Hoje, amanha e depois do que vier...
Alice eu te amo! Não desperte do sonho que vivemos!
Somente assim podemos ser uma realidade.


D.Diogo Klock

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Descrição – Sonho 27 de julho de 2013


(Foi um sonho bonito, emocionante e romântico, mas triste e cheio de angustia, onde lagrimas eram constantes ao aproximar-se do fim.)
O cenário era digno de outro universo, talvez outro planeta, de dimensões e cores ainda não compreendidas pelo homem.
Ele e se encontraram sem saber como ali chegaram, mas não se importaram com isso, pois a felicidade de se encontrarem num universo onde não havia limites nem fronteiras, nem compromissos humanos ou bandeiras. Olharam atentos para todos os lados e não enxergaram ninguém que os pudesse julgar ou vigiar, não viram regras e nem sentiram medo.
Olharam-se novamente e sentiram apenas um gostoso e harmonioso estado de euforia, livre, natural e leve. Tão leve que podiam flutuar, pois assim aconteceu. Voaram! Voaram por paisagens jamais percebidas pelos olhos humanos, não havia uma grama em peso de preocupação que os fizessem descer. Braços abertos, mãos dadas, sorrisos espontâneos e radiantes contagiavam o brilho no cenário daquela viagem, giravam pelo ar em piruetas pelo céu colorido entre carinhos, mãos e braços tentavam acertar os lábios um do outro a cada volta, numa brincadeira de abraços e beijinhos, sorrisos e olhares apaixonados.
Horas e horas se passaram naquele clima de felicidade e prazer eterno, tantas que os relógios nem contaram. Não trocaram muitas palavras, pois já estavam ditas, apenas sorriam e se contemplavam e repetiam frases carinhosas de desejos eternos.
Olhavam-se e repetiam: - Pra sempre! Pra sempre!! Pra sempre!!!
E não eram promessas, pois essas não precisavam existir entre os dois, já que ali. Juntos eram um só!  Estavam no sempre, no eterno, pelo menos naquele momento. E aquele estágio máximo de pureza em que se encontravam era a plenitude que mais os importava naquele universo astral.
                - Amor, porque aquela estrela única neste céu maravilhoso parou e estamos nos aproximando dela? Disse ela.
                - Veja! Ela parou ao lado direito da lua cheia colorida no alto daquela colina. Respondeu ele.
                - Que lindas, quer dizer que a estrela e a lua nos esperam para juntarem-se em nossa alegria neste momento mágico? (ela)
                - Não meu amor, bem gostaria, mas reconheço este lugar. Veja o delta acima da lua à esquerda, ali ele representa o Todo, a onipotência, onipresença e a onisciência. Repare ainda, à esquerda que corre um rio de lágrimas azuis ao centro do Olho que tudo vê. (ele)
                - Sim! Tudo é muito lindo. Mas que significa este cenário tão grandioso? (ela)
                - Significa que esta viagem esta chegando ao fim, que devemos voltar para a realidade de onde viemos e concluir nossas missões. Olhe! Ao centro da lua cheia e colorida, há um lugar de luz em formato parecido com uma casa, é por ali que devemos adentrar e voltar para concluir nossas vidas noutro plano. (ele)
                - Mas não quero, estou feliz e me sinto completa aqui contigo meu amor! (ela)
                - Vês! A nossa estrela é única! Uma única estrela nos guia e onde estivermos nos guiará, perceba ainda à direita da lua cheia colorida, que abaixo da estrela há um coração radiante, aquele é o nosso coração e continuará batendo por nós dois; dividido entre cores, mas no centro uma única formando a base sólida. (ele)
                - Mas por que temos que entrar neste portal, por que não podemos ficar ou pedir para que nos deixem aqui? (ela)
                - Meu amor, todo universo se emociona e se comove com os nossos sentimentos. Olhe novamente para o rio de lagrimas que corre pelo Olho, ali estão lágrimas de um universo inteiro que torce para concluirmos nossas missões e podermos estar aqui novamente. Veja, o espiral à esquerda simboliza a grandeza de um verso; os dois laços correndo do centro para a direita nos mostra os destinos que apesar de se encontrarem do outro lado do portal, continuam próximos encontrando-se pelo caminho, mas ainda em rumos diferentes. Olhe ainda, há três faixas em curva à direita, três retas ao centro e outras três em curva à esquerda, outras três ainda em diagonal à direita e à esquerda. As em curva, simbolizam os caminhos percorridos por nos dois até aqui, as retas centrais o destino até onde com sucesso já percorremos, os degraus ao lado do destino percorrido simbolizam cada estagio que já concluímos; e as retas diagonais nos mostram que nossos caminhos ainda que aparentemente distantes seguem na mesma direção.
Precisamos ir agora! Segure firme minha mão e não tenha medo, seque suas lágrimas, estamos bem. (ele)
                - Eu te amo! Pra sempre! Pra sempre!! Pra sempre!!! (ela)
                - Eu Também! Eu Também...(ele)

D. Diogo Klock

27/28 de julho de 2013.




terça-feira, 16 de julho de 2013

Sócrates sobre o amor e conta o discurso de Diotima ( O Banquete - Platão)

E eu então: - Que dizes, ó Diotima? É feio então o Amor, e mau?
E ela: - Não vais te calar? Acaso pensas que o que não for belo, é forçoso ser feio?
- Exatamente.
- E também se não for sábio é ignorante? Ou não percebeste que existe algo entre sabedoria e ignorância?
- Que é?
- O opinar certo, mesmo sem poder dar razão, não sabes, dizia-me ela, que nem é saber - pois o que é sem razão, como seria ciência? - nem é ignorância - pois o que atinge o ser, como seria ignorância? – e que é sem dúvida alguma coisa desse tipo a opinião certa, um intermediário entre entendimento e ignorância.
- É verdade o que dizes, tornei--lhe.
- Não fiques, portanto, forçando o que não é belo a ser feio, nem o que não é bom a ser mau. Assim também o Amor, porque tu mesmo admites que não é bom nem belo, nem por isso vás imaginar que ele deve ser feio e mau, mas sim algo que está, dizia ela, entre esses dois extremos.
- E todavia é por todos reconhecido que ele é um grande deus.
- Todos os que não sabem, é o que estás dizendo, ou também os que sabem?
- Todos eles, sem dúvida.
E ela sorriu e disse: - E como, ó Sócrates, admitiriam ser um grande deus aqueles que afirmam que nem deus ele e?
- Quem são estes? Perguntei-lhe.
- Um és tu - respondeu-me - E eu, outra.
E eu: - Que queres dizer com isso?
E ela: - É simples. Dize-me, com efeito, todos os deuses não os afirmas felizes e belos? Ou terias a audácia de dizer que algum deles não é belo e feliz?
- Por Zeus, não eu - retornei--lhe.
- E os felizes então, não dizes que são os que possuem o que é bom e o que é belo?
- Perfeitamente.
- Mas no entanto, o Amor, tu reconheceste que, por carência do que é bom e do que é belo, deseja isso mesmo de que é carente.
- Reconheci, com efeito.
Como então seria deus o que justamente é desprovido do que é belo e bom?
- De modo algum, pelo menos ao que parece.
- Estás vendo então - disse - que também tu não julgas o Amor um deus?
- Que seria então o Amor? - perguntei-lhe. - Um mortal?
- Absolutamente.
- Mas o quê, ao cento, ó Diotima?
- Como nos casos anteriores - disse-me ela - algo entre mortal e imortal.
- O quê, então, ó Diotima?
- Um grande gênio, ó Sócrates; e com efeito, tudo o que é gênio está entre um deus e um mortal.
- E com que poder? Perguntei-lhe.
- O de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses, de uns as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e as recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo. Por seu intermédio é que procede não só toda arte divinatória, como também a dos sacerdotes que se ocupam dos sacrifícios, das iniciações e dos encantamentos, e enfim de toda adivinhação e magia. Um deus com um homem não se mistura, mas é através desse ser que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando despertos como quando dormindo; e aquele que em tais questões é sábio é um homem de gênio, enquanto o sábio em qualquer outra coisa, arte ou oficio, é um artesão. E esses gênios, é certo, são muitos e diversos, e um deles é justamente o Amor.
- E quem é seu pai - perguntei-lhe - e sua mãe?
- É um tanto longo de explicar, disse ela; todavia, eu te direi. Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o filho de Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pobreza, e ficou pela porta. Ora, Recurso, embriagado com o néctar - pois vinho ainda não havia - penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Pobreza então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu lado e pronto concebe o Amor. Eis por que ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E por ser filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a condição em que ele ficou. Primeira-mente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio ele recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá.
Nenhum deus filosofa ou deseja ser sábio - pois já é -, assim como se alguém mais é sábio, não filosofa.
Nem também os ignorantes filosofam ou desejam ser sábios; pois é nisso mesmo que está o difícil da ignorância, no pensar, quem não é um homem distinto e gentil, nem inteligente, que lhe basta assim. Não deseja portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa lhe ser preciso.
- Quais então, Diotima - perguntei-lhe - os que filosofam, se não são nem os sábios nem os ignorantes?
- É o que é evidente desde já - respondeu-me - até a uma criança: são os que estão entre esses dois
extremos, e um deles seria o Amor. Com efeito, uma das coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o ignorante. E a causa dessa sua condição é a sua origem: pois é filho de um pai sábio e rico e de uma mãe que não é sábia, e pobre. É essa então, ó Sócrates, a natureza desse gênio; quanto ao que pensaste ser o Amor, não é nada de espantar o que tiveste. Pois pensaste, ao que me parece a tirar pelo que dizes, que Amor era o amado e não o amante; eis por que, segundo penso, parecia-te todo belo o Amor. E de fato o que é amável é que é realmente belo, delicado, per-feito e bem-aventurado; o amante, porém é outro o seu caráter, tal qual eu expliquei.
E eu lhe disse: - Muito bem, estrangeira! É belo o que dizes! Sendo porém tal a natureza do Amor, que proveito ele tem para os homens?
- Eis o que depois disso - respondeu-me - tentarei ensinar-te. Tal é de fato a sua natureza e tal a sua origem; e é do que é belo, como dizes. Ora, se alguém nos perguntasse: Em que é que é amor do que é belo o Amor, ó Sócrates e Diotima? ou mais claramente: Ama o amante o que é belo; que é que ele ama?
- Tê-lo consigo - respondi-lhe.
- Mas essa resposta - dizia-me ela - ainda requer uma pergunta desse tipo: Que terá aquele que ficar com o que é belo?
- Absolutamente - expliquei-lhe - eu não podia mais responder-lhe de pronto a essa pergunta.
- Mas é, disse ela, como se alguém tivesse mudado a questão e, usando o bom em vez do belo,
perguntasse: Vamos, Sócrates, ama o amante o que é bom; que é que ele ama?
- Tê-lo consigo - respondi-lhe.
- E que terá aquele que ficar com o que é bom?
- Isso eu posso - disse-lhe - mais facilmente responder: ele será feliz.
- É com efeito pela aquisição do que é bom, disse ela, que os felizes são felizes, e não mais é preciso ainda perguntar: E para que quer ser feliz aquele que o quer? Ao contrário, completa parece a resposta.
- É verdade o que dizes - tornei-lhe.
- E essa vontade então e esse amor, achas que é comum a todos os homens, e que todos querem ter sempre consigo o que é bom, ou que dizes?
- Isso - respondi-lhe - é comum a todos.
- E por que então, ó Sócrates, não são todos que dizemos que amam, se é que todos desejam a mesma coisa e sempre, mas sim que uns amam e outros não?
- Também eu - respondi-lhe - admiro-me.
Mas não! Não te admires! - retrucou ela; - pois é porque destacamos do amor um certo aspecto e, aplicando-lhe o nome do todo, chamamo-lo de amor, enquanto para os outros aspectos servimo-nos de outros nomes.
- Como, por exemplo? Perguntei-lhe.
- Como o seguinte. Sabes que "poesia" é algo de múltiplo; pois toda causa de qualquer coisa passar do não-ser ao ser é “poesia”, de modo que as confecções de todas as artes são “poesias”, e todos os seus artesãos poetas.
- É verdade o que dizes.
- Todavia continuou ela - tu sabes que estes não são denominados poetas, mas tem outros nomes,enquanto que de toda a “poesia” uma única parcela foi destacada, a que se refere à música e aos versos, e com o nome do todo é denominada. Poesia é com efeito só isso que se chama, e os que têm essa parte da poesia, poetas.
- É verdade - disse-lhe.
- Pois assim também é com o amor. Em geral, todo esse desejo do que é bom e de ser feliz, eis o que é “o supremo e insidioso amor, para todo homem”, no entanto, enquanto uns, porque se voltam para ele por vários outros caminhos, ou pela riqueza ou pelo amor à ginástica ou à sabedoria, nem se diz que amam nem que são amantes, outros ao contrário, procedendo e empenhando-se numa só forma, detêm o nome do todo, de amor, de amar e de amantes.
- É bem provável que estejas dizendo a verdade - disse-lhe eu.
- E de fato corre um dito, continuou ela, segundo o qual são os que procuram a sua própria metade os que amam; o que eu digo porém é que não é nem da metade o amor, nem do todo; pelo menos, meu amigo, se não se encontra este em bom estado, pois até os seus próprios pés e mãos querem os homens cortar, se lhes parece que o que é seu está ruim. Não é com efeito o que é seu, penso, que cada um estima, a não ser que se chame o bem de próprio e de seu, e o mal de alheio; pois nada mais há que amem os homens serão o bem; ou te parece que amam?
- Não, por Zeus - respondi-lhe.
- Será então - continuou - que é tão simples assim, dizer que os homens amam o bem?
- Sim - disse-lhe.
- E então? Não se deve acrescentar que é ter consigo o bem que eles amam?
- Deve-se.
- E sem dúvida - continuou - não apenas ter, mas sempre ter?
- Também isso se deve acrescentar.
- Em resumo então - disse ela - é o amor amor de consigo ter sempre o bem.
- Certíssimo - afirmei-lhe - o que dizes.
Quando então - continuou ela - é sempre isso o amor, de que modo, nos que o perseguem, e em que ação, o seu zelo e esforço se chamaria amor? Que vem a ser essa atividade? Podes dizer-me?
- Eu não te admiraria então, ó Diotima, por tua sabedoria, nem te freqüentaria para aprender isso mesmo.
- Mas eu te direi - tornou-me. -É isso, com efeito, um parto em beleza, tanto no corpo como na alma.
- É um adivinho - disse-lhe eu - que requer o que estás dizendo: não entendo.
- Pois eu te falarei mais clara-mente, Sócrates, disse-me ela. Com efeito, todos os homens concebem, não só no corpo como também na alma, e quando chegam a certa idade, é dar à luz que deseja a nossa natureza. Mas ocorrer isso no que é inadequado é impossível. E o feio é inadequado a tudo o que é divino, enquanto o belo é adequado. Moira então e Ilitia do nascimento é a Beleza. Por isso, quando do belo se aproxima o que está em concepção, acalma-se, e de júbilo transborda, e dá à luz e gera; quando porém é do feio que se aproxima, som-brio e aflito contrai-se, afasta-se, recolhe-se e não gera, mas,retendo o que concebeu, penosamente o carrega. Daí é que ao que está prenhe e já intumescido é grande o alvoroço que lhe vem à vista do belo, que de uma grande dor liberta o que está prenhe.
É com efeito, Sócrates, dizia-me ela, não do belo o amor, como pensas.
- Mas de que é enfim?
- Da geração e da parturição no belo.
- Seja - disse-lhe eu.
- Perfeitamente - continuou. - E por que assim da geração? Porque é algo de perpétuo e mortal para um mortal, a geração. E é a imortalidade que, com o bem, necessariamente se deseja, pelo que foi admitido, se é que o amor é amor de sempre ter consigo o bem. É de fato forçoso por esse argumento que também da imortalidade seja o amor.
Tudo isso ela me ensinava, quando sobre as questões de amor discorria, e uma vez ela me perguntou: - Que pensas, ó Sócrates, ser o motivo desse amor e desse desejo? Porventura não percebes como é estranho o comportamento de todos os animais quando desejam gerar, tanto dos que andam quanto dos que voam, adoecendo todos em sua disposição amorosa, primeiro no que concerne à união de um com o outro, depois no que diz respeito à criação do que nasceu? E como em vista disso estão prontos para lutar os mais fracos contra os mais fortes, E mesmo morrer, não só se torturando pela fome a fim de alimentá-los como tudo o mais fazendo? Ora, os homens, continuou ela, poder-se-ia pensar que é pelo raciocínio que eles agem assim; mas os animais, qual a causa desse seu comportamento amoroso? Podes dizer-me?
De novo eu lhe disse que não sabia; e ela me tornou: - Imaginas então algum dia te tornares temível nas questões do amor, se não refletires nesses fatos?
- Mas é por isso mesmo, Diotima - como há pouco eu te dizia - que vim a ti, porque reconheci que precisava de mestres. Dize-me então não só a causa disso, como de tudo o mais que concerne ao amor.
- Se de fato - continuou - crês que o amor é por natureza amor daquilo que muitas vezes admitimos, não fiques admirado. Pois aqui, segundo o mesmo argumento que lá, a natureza mortal procura, na medida do possível, ser sempre e ficar imortal. E ela só pode assim, através da geração, porque sempre deixa um outro ser novo em lugar do velho; pois é nisso que se diz que cada espécie animal vive e é a mesma, assim como de criança o homem se diz o mesmo até se tornar velho; este na verdade, apesar de jamais ter em si as mesmas coisas, diz-se todavia que é o mesmo, embora sempre se renovando e perdendo alguma coisa, nos cabelos, nas carnes, nos ossos, no sangue e em todo o corpo. E não é que é só no corpo, mas também na alma os modos, os costumes, as opiniões, desejos, prazeres, aflições, temores, cada um desses afetos jamais permanece o mesmo em cada um de nós, mas uns nascem, outros morrem. Mas ainda mais estranho do que isso é que até as ciências não é só que umas nascem e outras morrem para nós, e jamais somos os mesmos nas ciências, mas ainda cada uma delas sofre a mesma contingência. O que, com efeito, se chama exercitar é como se de nós estivesse saindo a ciência; esquecimento é escape de ciência, e o exercício, introduzindo uma nova lembrança em lugar da que está saindo, salva a ciência, de modo a parecer ela ser a mesma. É desse modo que tudo o que é mortal se conserva, E não pelo fato de absolutamente ser sempre o mesmo, como o que é divino, mas pelo fato de deixar o que parte e envelhece um outro ser novo, tal qual ele mesmo era. É por esse meio, ó Sócrates, que o mortal participa da imortalidade, no corpo como em tudo mais o imortal porém é de outro modo. Não te admires portanto de que o seu próprio rebento, todo ser por natureza o aprecie: é em virtude da imortalidade que a todo ser esse zelo e esse amor acompanham.
Depois de ouvir o seu discurso, admirado disse-lhe: - Bem, ó doutíssima Diotima, essas coisas é verdadeiramente assim que se passam?
E ela, como os sofistas consumados, tornou-me: - Podes estar certo, ó Sócrates; o caso é que, mesmo entre os homens, se queres atentar à sua ambição, admirar-te-ias do seu desarrazoamento, a menos que, a respeito do que te falei, não reflitas, depois de considerares quão estranhamente eles se comportam com o amor de se tornarem renomados e de “para sempre uma g1ória imortal se preservarem”, e como por isso estão prontos a arrostar todos os perigos, ainda mais do que pelos filhos, a gastar fortuna, a sofrer privações, quaisquer que elas sejam, e até a sacrificar-se. Pois pensas tu, continuou ela, que Alceste morreria por Admeto, que Aquiles morreria depois de Pátroclo, ou o vosso Codro morreria antes, em favor da realeza dos filhos, se não imaginassem que eterna seria a memória da sua própria virtude, que agora nós conservamos? Longe disso, disse ela; ao contrário, é, segundo penso, por uma virtude imortal e por tal renome e glória que todos tudo fazem, e quanto melhores tanto mais; pois é o imortal que eles amam. Por conseguinte, continuou ela, aqueles que estão fecundados em seu corpo voltam-se de preferência para as mulheres, e é desse modo que são amorosos, pela procriação conseguindo para si imortalidade, memória e bem-aventurança por todos os séculos seguintes, ao que pensam; aqueles porém que é em sua alma - pois há os que concebem na alma mais do que no corpo, o que convém à alma conceber e gerar; e o que é que lhes convém senão o pensamento e o mais da virtude? Entre estes estão todos os poetas criadores e todos aqueles artesãos que se diz serem inventivos; mas a mais importante, disse ela, e a mais bela forma de pensa-mento é a que trata da organização dos negócios da cidade e da família, e cujo nome é prudência e justiça - destes por sua vez quando alguém, desde cedo fecundado em sua alma, ser divino que é, e chegada a idade oportuna, já está desejando dar à luz e gerar, procura então também este, penso eu, à sua volta o belo em que possa gerar; pois no que é feio ele jamais o fará. Assim é que os corpos belos mais que os feios ele os acolhe, por estar em concepção; e se encontra uma alma bela, nobre e bem dotada, é total o seu acolhimento a ambos, e para um homem desses logo ele se enriquece de discursos sobre a virtude, sobre o que deve ser o homem bom e o que deve tratar, e tenta educá-lo. Pois ao contato sem dúvida do que é belo e em sua companhia, o que de há muito ele concebia ei-lo que dá à luz e gera, sem o esquecer tanto em sua presença quanto ausente, e o que foi gerado, ele o alimenta justamente com esse belo, de modo que uma comunidade muito maior que a dos filhos ficam tais indivíduos mantendo entre si, e uma amizade mais firme, por serem mais belos e mais imortais os filhos que têm em comum. E qualquer um aceitaria obter tais filhos mais que os humanos, depois de considerar Homero e Hesíodo, e admirando com inveja os demais bons poetas, pelo tipo de descendentes que deixam de si, e que uma imortal glória e mem6ria lhes garantem, sendo eles mesmos o que são; ou se preferes, continuou ela, pelos filhos que Licurgo deixou na Lacedemônia, salvadores da Lacedemônia e por assim dizer da Grécia. E honrado entre vós é também Sólon pelas leis que criou, e outros muitos em muitas outras partes, tanto entre os gregos como entre os bárbaros, por terem dado à luz muitas obras belas e gerado toda espécie de virtudes; deles é que já se fizeram muitos cultos por causa de tais filhos, enquanto que por causa dos humanos ainda não se fez nenhum.
São esses então os casos de amor em que talvez, ó Sócrates, também tu pudesses ser iniciado; mas, quanto à sua perfeita contemplação, em vista da qual é que esses graus existem, quando se procede corretamente, não sei se serias capaz; em todo caso, eu te direi, continuou, e nenhum esforço pouparei; tenta então seguir-me se fores capaz: deve com efeito, começou ela, o que corretamente se encaminha a esse fim, começar quando jovem por dirigir-se aos belos corpos, e em primeiro lugar, se corretamente o dirige o seu dirigente, deve ele amar um só corpo e então gerar belos discursos; depois deve ele compreender que a beleza em qualquer corpo é irmã da que está em qualquer outro, e que, se se deve procurar o belo na forma, muita tolice seria não considerar uma só e a mesma a beleza em todos os corpos; e depois de entender isso, deve ele fazer-se amante de todos os belos corpos e largar esse amor violento de um só, após desprezá-lo e considerá-lo mesquinho; depois disso a beleza que está nas almas deve ele considerar mais preciosa que a do corpo, de modo que, mesmo se alguém de uma alma gentil tenha todavia um escasso encanto, contente-se ele, ame e se interesse, e produza e procure discursos tais que tornem melhores os jovens; para que então seja obrigado a contemplar o belo nos ofícios e nas leis, e a ver assim que todo ele tem um parentesco comum, e julgue enfim de pouca monta o belo no corpo; depois dos ofícios é para as ciências que é preciso transportá-lo, a fim de que veja também a beleza das ciências, e olhando para o belo já muito, sem mais amar como um doméstico a beleza individual de um criançola, de um homem ou de um só costume, não seja ele, nessa escravidão, miserável e um mesquinho discursador, mas voltado ao vasto oceano do belo e, contemplando-o, muitos discursos belos e magníficos ele produza, e reflexões, em inesgotável amor à sabedoria, até que aí robustecido e crescido contemple ele uma certa ciência, única, tal que o seu objeto é o belo seguinte. Tenta agora, disse-me ela, prestar-me a máxima atenção possível. Aquele, pois, que até esse ponto tiver sido orientado para as coisas do amor, contemplando seguida e corretamente o que é belo, já chegando ao ápice dos graus do amor, súbito perceberá algo de maravilhosa-mente belo em sua natureza, aquilo mesmo, ó Sócrates, a que tendiam todas as penas anteriores, primeiramente sempre sendo, sem nascer nem perecer, sem crescer nem decrescer, e depois, não de um jeito belo e de outro feio, nem ora sim ora não, nem quanto a isso belo e quanto àquilo feio, nem aqui belo ali feio, como se a uns fosse belo e a outros feio; nem por outro lado aparecer-lhe-á o belo como um rosto ou mãos, nem como nada que o corpo tem consigo, nem como algum discurso ou alguma ciência, nem certa-mente como a existir em algo mais, como, por exemplo, em animal da terra ou do céu, ou em qualquer outra coisa; ao contrário, aparecer-lhe-á ele mesmo, por si mesmo, consigo mesmo, sendo sempre uniforme, enquanto tudo mais que é belo dele participa, de um modo tal que, enquanto nasce e perece tudo mais que é belo, em nada ele fica maior ou menor, nem nada sofre. Quando então alguém, subindo a partir do que aqui é belo, através do correto amor aos jovens, começa a contemplar aquele belo, quase que estaria a atingir o ponto final. Eis, com efeito, em que consiste o proceder correta-mente nos caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir:  em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo. Nesse ponto da vida, meu caro Sócrates, continuou a estrangeira de Mantinéia, se é que em outro mais, poderia o homem viver, a contemplar opróprio belo. Se algum dia o vires, não é como ouro ou como roupa que ele te parecerá ser, ou como os belos jovens adolescentes, a cuja vista ficas agora aturdido e disposto, tu como outros muitos, contanto que vejam seus amados e sempre estejam com eles, a nem comer nem beber, se de algum modo fosse possível, mas a só contemplar e estar ao seu lado. Que pensamos então que aconteceria, disse ela, se a alguém ocorresse contemplar o próprio belo, nítido, puro, simples, e não repleto de carnes, humanas, de cores e outras muitas ninharias mortais, mas o próprio divino belo pudesse ele em sua forma única contemplar? Porventura pensas, disse, que é vida vã a de um homem a olhar naquela direção e aquele objeto, com aquilo com que deve, quando o contempla e com ele convive? Ou não consideras, disse ela, que somente então, quando vir o belo com aquilo com que este pode ser visto, ocorrer-lhe-á produzir não sombras de virtude, porque não é em sombra que estará tocando, mas reais virtudes, porque é no real que estará tocando?

Eis o que me dizia Diotima, ó Fedro e demais presentes, e do que estou convencido; e porque estou convencido, tento convencer também os outros de que para essa aquisição, um colaborador da natureza humana melhor que o Amor não se encontraria facilmente. Eis por que eu afirmo que deve todo homem honrar o Amor, e que eu próprio prezo o que lhe concerne e particularmente o cultivo, e aos outros exorto, e agora e sempre elogio o poder e a virilidade do Amor na medida em que sou capaz. Este discurso, ó Fedro, se queres, considera-o proferido como um encômio ao Amor; se não, o que quer que e como quer que te apraza chamá-lo, assim deves fazê-lo. 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vem!?

É bem verdade que não minto
Quando digo o que sinto,
Mas há também a realidade de omitir
Sempre que julgar necessário.

Deixar no imaginário e não despertar emoções
De corações comprometidos, envolvidos com outras vidas.
Cumprir protocolo, fazer o que é certo,
Aquilo que a retidão moral nos diz que é correto!

...

Ficamos pertos demais por um momento,
A ponto de nossos sentimentos quase aflorar!
Onde desejos outrora insanos, permitimo-nos imaginar.
Mas ainda temos tempo... Podemos controlar!

Os desejos mais profundos...
Mundos e vidas que nunca vivemos!
Calma! Não quer dizer que não viveremos o que sentimos,
E nem importa até aonde seguirmos...

Pois, não há dúvidas no campo das idéias
E nem limites para imaginação,
Somos livres para voar,
E se alguém duvidar...
Omitimos! Por mais que sentirmos...
Apenas omitimos!


D.Diogo Klock (02/07/2013)

domingo, 30 de junho de 2013

Se pudéssemos...


Se pudesse dizer, não mediria palavras para expressar o que sinto,
Se ao menos ela acreditasse que não minto quando digo que é sincero,
Talvez, teria mais coragem de me expressar.
Mas se for parar pra pensar... Não sei se devo!
E nem se me atrevo ainda mais nessa aventura errante.

Seu sorriso, seu semblante! Amantes da vida.
Mesmo que dividida entre sonho e realidade.

Reescrevo! Linhas e linhas tentando uma frase perfeita,
Que não tenha margem para suspeitas ou desconfianças,
Linhas que ficam apenas na lembrança.
 Interrompidas pelo receio,
Pelo anseio desesperado de não a perder.

Mas tudo é tão lindo no campo das idéias,
Onde não há celas que possam nos prender,
Onde sabemos o que dizer, sem ter medo do inconseqüente.
E tudo o que se sente pode ser falado.

Ai meus Deus! Será que é errado amar assim?
Será que temos mesmo que nos esconder,
Ou, por um fim naquilo que sentimos?
Se quando nos unimos o mundo parece mágico!?

Dúvidas, dúvidas ...

Gostaria de ter acesso a fonte, atravessar a ponte dos segredos
Esquecer dos medos e das virtudes, tomar outras atitudes,
Algo que nos faça vencer, que nos deixe viver,
Que me permita dizer neste momento tudo que sinto!

“Apenas acredite que não minto!”
Ao dizer que estou te amando...
 
D. Diogo Klock

30-06-2013

domingo, 23 de junho de 2013

Um simples e grandioso sonho

Sonhei que lhe beijava e não conseguia parar,
Que te abraçava e ficávamos grudados sem conseguir separar,
Sonhei que uma simples mensagem era um sorriso diário,
E que um sorriso era suficiente para o dia inteiro.

Sonhei que um beijo era impossível! Quase um derradeiro,
E que o verdadeiro sentimento não podia ser revelado,
Um mistério ainda intocado, uma realidade que deveria ser preservada.
Sonhei que ainda era o começo de uma caminhada,
E a estrada que seguíamos era imperfeita,
Feita para nos perder.

Sonhei que nos perdíamos, mas conseguíamos nos achar,
E por mais que o mundo se perdesse
Ficávamos felizes em qualquer lugar.
Sonhei que não sabia o que dizer quando sorria,
Que quando à via, ficava paralisado em estado de morte
E o único reflexo de vida eram corações batendo forte.

Sonhei num momento de sorte que éramos livres
E fugíamos para um mundo perfeito,
Um mundo feito apenas por nós dois.

Num lugar onde o dia e a noite podiam se encontrar,
A bela e a fera podiam se amar,
Romeu e Julieta alcançaram se casar,
Adão e Eva conseguiram se deitar,
Onde éramos fogo e água e podíamos nos tocar,
Éramos lua e sol e podíamos nos beijar.

Sonhei que estava acordado e que a vida era um sonho,
Estava desperto e o sonho não havia se desfeito.
Feito criança fiquei sorrindo,
Pois o que acreditei ser um sonho
Era o que realmente estava sentindo.

D. Diogo Klock

17/06/13

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Há tanto tempo... Tanto tempo...