segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Terra

Olha o que era pra ser o fim da primavera
Olha o que era pra ser não aconteceu

Não caíram as flores
Não cessou-se a chuva
Não abriram as janelas
A lagrima não secou.

Não voaram as andorinhas
Não cresceram as ervas daninhas
A roupa não mudou.

O sol continua indo cedo
As trovoadas ainda dão medo
A primavera não acabou.

Olha o que era pra ser o fim da primavera,
Olha o que era pra ser não aconteceu

Usaram todas as armas
Sujaram todas as águas
O rio adoeceu.

Cortaram todas as árvores
Destruíram todas as margens
A terra desabou.

Poluíram todos os ares
Acabaram com todos os mares
A terra não agüentou.

Olha o que era pra ser o fim da primavera,
Olha o que era pra ser não aconteceu

Olha o que fizeram com a terra
Não cuidaram bem dela
Continuaram com as guerras
Ela não agüentou.

D. Diogo Klock

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Lembranças


Um velho deitado
Um menino correndo
O velho calado
O menino falando por dois
Brincando na lama
Num banho de chuva
Num banho de lua.

No velho um suspiro
No menino um sorriso
Sincero, elétrico pulante.
Ele caça vaga-lumes
E escreve sobre o amor.
Ainda puro ainda ingênuo
Nunca provou o doce veneno.

O velho vivido
O menino aprendendo
Num abraço forte sentindo
Feliz ou sofrendo.

Um menino...
Família, amigos e escola,
Nem trabalho nem compromisso.
Menino ainda num mundo lindo
Ainda na inocência.

Um menino vivendo?
Não!
Apenas um velho morrendo,
Lembrando e fitando sua vida
Antes do suspiro final.


D. Diogo Klock

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Jogo

Corte o baralho e dê as cartas,
conte uma história de reis, príncipes e damas
dê-me um coringa para jogar
este jogo entre espadas e paus,
esta guerra por ouro e corações.

Conte os pontos, conte os mortos
amontoados como lixo descartável.
descarte logo,
alguém pode tirar proveito deste sangue.
Coloque na mesa, mostre suas caras,
cartas raras de se juntar,
a combinação perfeita
no teatro do jogo da vida.

Vamos ver quem ganha a grande bolada
de cifrões na ponta da espada
pronta para cortar corações
e os espaços em pedaços cheios de gente
vivendo entre o príncipe e o espantalho
como num jogo de baralho
lutando para ganhar.

D. Diogo Klock

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Aos Humanos XI

Ainda não é o fim do mundo
e esse inútil receio veio me assombrar,
parar pra pensar no infinito,
saber o que não se pode mudar.

Ah... Com que razão se pode viver?
Se olhando para o meu intimo interior
encontro apenas vácuo.
Até quando persistir
em chegar no ápice do nada?
Nadando em um mar abstrato
e sem resquícios de certezas,
puramente vazio e completamente cheio.

Espectro ilusório coletivo,
sensitivo, sem razão.
Espaços que se apagam,
deixam de existir, somem, passam!
Passam para o sempre, passam para o nunca!
Nunca ficam, nada fica, nem existe.

E ainda insiste-se em pensar,
crer, encontrar, fazer, construir ou mudar.
Ahh... Humanos!
Aonde querem chegar?

D. Diogo Klock